terça-feira, 12 de abril de 2011

Repensando nosso olhar sobre as relações entre sociedade e natureza

No livro de Isabel Cristina de Moura Carvalho, a autora propõe um novo pensamento sobre as relações entre a sociedade e a natureza. Ela questiona um modelo bastante vigente nas questões relativas ao meio ambiente que é a visão naturalista da natureza.
Ficamos habituados com ideias e conceitos de tal modo que tornamos o mundo inteligível e familiar. Esquecemos que esses conceitos não são a única tradução do mundo. Existem outros modos de recortá-lo, mas sempre deixando algo de fora que será apreendido por outro conceito, pois não abarcam nunca uma totalidade.
A nossa interpretação varia muito mais segundo nossas expectativas do que segundo os elementos objetivos das situações, mas estamos sempre compelidos a rever, ou seja, interpretar os sinais que despontam do real, sem nunca esgotá-lo em uma palavra ou imagem final e inconteste.
Assim, para renovar nossa visão do mundo é preciso questionarmos conceitos já estabilizados em muitos campos da experiência humana, criando espaço para novos aprendizados e para renovação de alguns pressupostos de vida.
Quando falamos em meio ambiente essa noção logo evoca as ideias de ''natureza'', ''vida biológica'', ''vida selvagem'', ''fauna e flora''. Essa visão naturalizada tende a ver a natureza como o mundo da ordem biológica, essencialmente boa, pacificada, equilibrada, estável, em suas interações ecossistêmicas, o qual segue vivendo como autônomo e independente da interação com o mundo cultural humano. Nessa interação a presença humana aparece como problemática e nefasta para a natureza.
Esta representação está fortemente inscrita em nosso ideário ambiental e se filia a uma visão denominada naturalista. Esta se baseia principalmente na percepção da natureza como fenômeno biológico, autônomo, alimentando a ideia de que há um mundo natural constituído em oposição ao mundo humano. A natureza do naturalismo é aquilo que deveria permanecer fora do alcance do ser humano. Essa visão tem expressão nas orientações conservacionistas que se dedicam a proteger a natureza das interferências humanas, entendidas sempre como ameaçadoras à integridade daquela.
Outro ângulo é o socioambiental. Nesse ponto de vista a sociedade e o ambiente, estabelecem uma relação de mútua interação e co-presença, formando um único mundo. Observa-se que em muitos ambientes naturais considerados intactos, é possível reconhecer vestígios das trocas e transformações geradas pela presença humana, a qual, com suas interferências, pode ter aumentado o nível de troca e a biodiversidade. Essa perspectiva nos permite falar em sociobiodiversidade, como um fator de diversificação desejável para a vida que vai além da simples diversidade biofísica.